O SAX QUE TOCA DISTANTE QUER PROXIMIDADE
virgem e manca guardo sob a pele
certezas de antigas serras
digo não a tudo que é prisão
digo sim a tudo que é flor
e risco
silente aguardo o sinal
rainha, serva, rapsoda do antes
nada quero, tudo toco
corça de nenhum lugar
ao primitivo, alço-me
EL SAXO QUE TOCA DISTANTE QUIERE PROXIMIDAD
virgen y renga guardo bajo la piel
certezas de antiguas sierras
digo no a todo lo que es prisión
digo sí a todo lo que es flor
y riesgo
silente aguardo la señal
reina, sierva, rapsoda del antes
nada quiero, todo toco
cierva de ningún lugar
a lo primitivo, me alzo
A LOUCURA CANTA PARA QUE EU ADORMEÇA
ela é de argila, solitária, não blasfema
não reclama
adora ameixa, pimentão vermelho
graviola, pitanga
disse-me que a liberdade é fúria
e a inocência é alimento puríssimo
é o que nos sustenta
lá, onde a grande onda derrama-se
inicia-se a primeira
dança
LA LOCURA CANTA PARA QUE YO ADORMEZCA
ella es de arcilla, solitaria, no blasfemia
no reclama
adora ciruela, pimentón rojo
guanábana, pitanga
me dice que la libertad es furia
y la inocencia es alimento purísimo
es lo que nos sustenta
allá, donde la gran ola derramase
iniciase la primera
danza
ESTA PALAVRA A QUEM PERTENCE?
perguntou-me a mais devastada esplanada
é minha, respondi
molhei a terra, adubei
sepultei sementes, desenhei lápides
perdi metade do meu coração
este é o aroma do fracasso, da dor, inspire
– asseverou
arbórea, peregrina, neblina afora
gritei: esta é a minha verdade
inaudita senhora
¿ESTA PALABRA A QUIÉN PERTENECE?
me preguntó la más devastada explanada
es mía, respondí
mojé la tierra, adoné
sepulté semillas, diseñé lápidas
perdí mitad de mi corazón
este es el aroma del fracaso, del dolor, inspire
– aseveró
arbórea, peregrina, neblina afuera
grité: esta es mi verdad
inaudita señora
O PÁSSARO AQUI DENTRO
quer se reinventar
retiro as algemas
e ele sorri
acostumou-se a ser invisível
acostumou-se a ser só
pássaro
inebriada eu o adoro
estou indo ao seu encontro
levo comigo
uma solidão nova e antiga
que me aproxima
de mim
EL PÁJARO AQUÍ DENTRO
quiere reinventarse
retiro las esposas
y él sonríe
se acostumbró a ser invisible
se acostumbró a ser solo
pájaro
inebriada yo lo adoro
estoy yendo a su encuentro
llevo conmigo
una soledad nueva y antigua
que me aproxima
de mí
EM FRÍGIA NÃO PUDE FICAR
eis-me em Naxos
implorando fios
musselinas
anáguas
sábia Ariadne, se seu sexo é casa
e sua língua é cárcere
sua bondosa maldade haverá
de me salvar?
EN FRIGIA NO PUDE QUEDARME
he me en Naxos
implorando hilos
muselinas
enaguas
sabia Ariadne, si su sexo es casa
y su lengua es cárcel
¿su bondadosa maldad habrá
de salvarme?
DENTRO DESTE PESADO PÁSSARO
tudo arde
sobrevoo Casablanca, Marrakesh, Agadir
não vim para ficar intacta
busco a nódoa, as fezes, o erro
o terno e áspero abraço
contra a muralha mourisca
inclino-me melhor para enxergar este destino:
uma mente andrógina escrevendo versos
desamparada pelo esplendor
permanece forte tempestade no horizonte
mas não desisto:
no meu jardim, Rosa e Pessoa
reinam
DENTRO DE ESTE PESADO PÁJARO
todo arde
sobrevuelo Casablanca, Marrakesh, Agadir
no vine para quedarme intacta
busco la mancha, las heces, el error
lo tierno es áspero abrazo
contra la muralla morisca
me inclino mejor para observar este destino:
una mente andrógina escribiendo versos
desamparada por el esplendor
permanece fuerte tempestad en el horizonte
pero no desisto:
en mi jardín, Rosa y Pessoa
reinan
Todos los poemas pertenecen al libro Habitar teu nome (Una, 2011)
Marize Lima de Castro (Natal, 1962) é poeta e jornalista, gradou-se em Comunicação Social na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Publicou os livros de poesia “Rito” (UFRN, 1993), “poco, festim, mosaico” (EDUFRN, 1996), “Esperado ouro” (Una, 2005), “Habitar teu nome” (Una, 2011), “A mesma fome” (Una, 2016) e “Jorro” (Uma, 2020). Ganhou o Prêmio de Poesia FJA em 1983 e o Prêmio Othoniel Menezes em 1998. Sobre ela, escreveu a professora Nelly Novaes Coelho, no Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras: “Poeta em tom maior, expert em Comunicação, jornalista, editora e uma das fortes vozes femininas da poesia brasileira contemporânea, revelou-se em livro, em 1984, com a publicação de Marrons Crepons Marfins que surpreendeu crítica e público pela força e originalidade de sua palavra”. Sobre Marize Castro, afirmou o poeta, professor e crítico literário Haroldo de Campos: “Em seus versos há algo de fundamental, algo entre o belo e o verum, a verdade em beleza, um cuidado especial com a síntese, um encontro com a poesia”.
Marize Lima de Castro (Natal, 1962) es poeta y periodista, se graduó en Comunicación Social en la Universidad Federal de Río Grande del Norte. Publicó los libros de poesía “Rito” (UFRN, 1993), “poço. festim. mosaico” (EDUFRN, 1996), “Esperado ouro” (Una, 2005), “Habitar teu nome” (Una, 2011), “A mesma fome” (Una, 2016) y “Jorro” (Una, 2020). Ganó el Premio de Poesía FJA en 1983 y el Premio Othoniel Menezes en 1998. Sobre ella, la profesora Nelly Novaes Coelho escribió, en el Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras: “Poeta de gran tono, experta en Comunicación, periodista, editora y una de las voces femeninas fuertes de la poesía brasileña contemporánea, se reveló en libro, en 1984, con la publicación de Marrons Crepons Marfins que sorprendió a la crítica y al público por la fuerza y originalidad de su palabra”. Sobre Marize Castro, afirmó el poeta, profesor y crítico literario Haroldo Campos: “En sus versos hay algo de fundamental, algo entre lo bello y lo verum, la verdad en belleza, un cuidado especial con la síntesis, un encuentro con la poesía”.