23 Mar 2023

150. POESÍA BRASILEÑA. GUILHERME GONTIJO FLORES

-18 Oct 2022

 

Serie de poesía brasileña

Curaduría y traducción:

Agustín Arosteguy

 

 

 POTLATCH



worse than useless custom

 LAWRENCE VANKOUGHNET

 

Estes os dons que antes nos deram

trazendo anéis de flores novas,

rebentos sob os pés na terra

sementados no lar da cova,

 

trazendo anéis de flores novas,

vão contradons dos meus avós

sementados no lar da cova

alheia décadas depois,

 

vão contradons dos meus avós

ao outro lado da família

alheia décadas depois,

como uma filha vem da filha

 

ao outro lado da família

cedendo tudo que ganhou,

como uma filha vem da filha,

como um avô vem de outro avô

 

cedendo tudo que ganhou,

desfaz-se tudo, menos carne,

como um avô vem de outro avô,

concede até chegar no cerne,

 

desfaz-se tudo, menos carne,

onde a medula dessas coisas

concede até chegar no cerne

e fundação das nossas casas,

 

onde a medula dessas coisas,

a mãe da mãe, o som do som

e fundação das nossas casas

farão seu dom no contradom,

 

a mãe da mãe, o som do som,

estes os dons que antes nos deram:

farão seu dom no contradom

rebentos sobre os pés na terra.

 

 

POTLATCH

worse than useless custom

  LAWRENCE VANKOUGHNET

 

Estos dones que antes nos dieron

trayendo anillos de flores nuevas,

retoños bajo los pies en la tierra

sembrados en el lar de la fosa,


trayendo anillos de flores nuevas,

van contradones de mis abuelos

sembrados en el lar de la fosa

ajena décadas después,

 

van contradones de mis abuelos

al otro lado de la familia

ajena décadas después,

como una hija viene de la hija

 

al otro lado de la familia

cediendo todo lo que ganó,

como una hija viene de la hija,

como un abuelo viene de otro abuelo

 

cediendo todo lo que ganó

deshacerse de todo, menos la carne,

como un abuelo viene de otro abuelo,

concede hasta llegar al centro,

 

deshacerse de todo, menos la carne,

donde la médula de estas cosas

concede hasta llegar al centro

y fundación de nuestras casas,

 

donde la médula de estas cosas,

la madre de la madre, el sonido del sonido

y fundación de nuestras casas

harán su don en el contradon,

 

la madre de la madre, el sonido del sonido

estos dones que antes nos dieron:

harán su don en el contradon

retoños sobre los pies en la tierra.

 

 

SUSPENSO

 

1.

Certo sonho eu vi um homem

parado ao meio do cerrado.

 

Sem dizer nada

me encheu inteira a boca

 

com tufos e pelos de bichos

depois me disse:

 

                          Acorda agora e fala.

Ao despertar eu expelia versos.

 

2.

E cada fio do teu cabelo

detém quarenta anzóis

onde me prendo

 

como arapuca esperta

que, exausta a presa,

em silêncio vai crescendo

 

e feito uma águia mutilada

após a flecha

também me rendo

 

nas tendas rotas,

no abandono das pedras

do teu acampamento

 

destroçado por fogo,

fúria,

vento.

E, peixe compelido

à seca dos açudes,

assim me vendo

 

e sem a vista estrita

do teu olhar,

sem direito a lamento

 

e sem um canto

onde cair,

sem fora ou dentro,

 

ali me enredo

alucinado no sabor

do meimendro:

 

perco a linha das rendas

como agulha em deriva,

porém desvendo.

 

E lendo o corpo em pelo

ali onde deslembro

tu ris e segues sendo:

 

e quando me contento

com teu silêncio

tu ris e segues sendo.

 

3.

Quando o sol se desenrolar

e quando cada estrela desabar

e quando cada monte passear

e quando a camela prenhe se largar

e quando cada fera se juntar

e quando arder em todo o mar

e quando cada alma emparelhar

e quando a enterrada viva explicar

por que motivo a podem trucidar

e quando a escrita se desenrolar

e quando o céu se esfolar

e quando o inferno se atiçar

e quando o paraíso se achegar

então toda alma tudo saberá.

 

Juro por todo astro que gira

que corre e esconde sua pira

pela noite quando inspira

pela aurora que respira:

 

na certa ele é o mensageiro altivo

junto ao dono do trono, ativo,

que todos obedecem no crivo

e não é louco o seu amigo

que no horizonte o tinha visto

nem é avaro quanto ao inviso —

e isto não vem dito por demo maldito.

 

Mas onde vocês procuram seu destino?

 

Isto é lembrança para os universos

pra quem no certo está converso

mas com isto vocês não querem conversa

se o senhor dos universos

com isto não conversa.

 

4.

Com meus companheiros me detive

entre as águas de dois rios

que cruzam a metrópole

lugares onde nada existe

onde não há ninguém

(a natureza das coisas tem mudado).

 

Entramos à direita pela nuvem

enquanto a esquerda despencava

e desabaram águas

derrubando árvores:

uma borrasca de folhas

desentocou os hóspedes da selva

e não sobrou de pé um tronco só

e entre edifícios de pedra

restaram penhascos apenas

como se o monte mais imenso

sob as primeiras chuvas

vestisse a longa túnica estriada

e de manhã depois do turbilhão

o cimo fosse uma cabeça calva

 

A enxurrada desceu seu despejo nas águas

feito um mascate a desdobrar tapetes

no dia seguinte parecia que os pássaros

sorviam com pimenta seu cauim

moluscos reviravam a sombra do céu

fazendo um pasto pros golfinhos

e nos limites mais distantes

os bichos afogados

pareciam raízes arrancadas de cebola.

 

5.

Ao despertar eu expelia versos

neste naufrágio em terra firme

sentindo em minha língua

algo de vinho, arenga em teus cabelos.

 

 

Nota: A seção 3 foi escrita a partir da sura 81 do Corão. A seção 4 reformula imagens da seleta beduína do Al-Muʿallaqāt.

 

 

 

SUSPENSO

 

1.

Cierto sueño vi a un hombre

detenido en el medio del cerrado.

 

Sin decir nada

me llenó la boca entera

 

con mechones y pelos de bichos

después me dijo:

 

                            Despierta ahora y habla.

Al despertar yo expelía versos.          

 

Y cada hilo de tu cabello

detentan cuarenta anzuelos

donde me prendo

 

como trampa experta

que, exhausta a la presa,

en silencio va creciendo

 

y hecho un águila mutilada

luego de la flecha

también me rindo

 

en las tiendas rotas,

en el abandono de las piedras

de tu campamento

 

destrozado por el fuego,

furia,

viento.

Y, pez compelido

a la sequía de los azudes,

así me vendo

 

y sin la vista estricta

de tu mirar,

sin derecho a lamento

 

y sin un rincón

donde caer,

sin fuera o dentro.

 

allí me enredo

alucinado en el sabor

del beleño:

 

pierdo la línea de las riendas

como aguja en la deriva,

sin embargo desvendo.

 

Y leyendo el cuerpo en pelo

allí donde no recuerdo

tu ríes y sigues siendo:

 

y cuando me contento

con tu silencio

tu ríes y sigues siendo.

 

Cuando el sol desplegar

y cuando cada estrella desplomar

y cuando cada monte pasear

y cuando la camella preñada largar

y cuando cada fiera juntar

y cuando arde en todo el mar

y cuando cada alma emparejar

y cuando la enterrada viva explicar

por qué motivo la pueden trucidar

y cuando la escrita desplegar

y cuando el cielo desollar

y cuando el infierno atizar

y cuando el paraíso acercar

entonces toda alma todo sabrá.

 

Juro por todo astro que gira

que corre y esconde su pira

por la noche cuando inspira

por la aurora que respira:

 

por cierto él es el mensajero altivo

junto al dueño del trono, activo,

que todos obedecen en el cribo

y no es loco su amigo

que en el horizonte lo había visto

ni es avaro como el no visto —

y esto no viene dicho por demonio maldito.

 

¿Pero dónde ustedes procuran su destino?

 

Esto es remembranza para los universos

para quien en lo cierto está converso

pero con esto ustedes no quieren conversa

si el señor de los universos

con esto no conversa.      

 

Con mis compañeros me detuve

entre las aguas de dos ríos

que cruzan la metrópoli

lugares donde nada existe

donde no hay nadie

(la naturaleza de las cosas ha mudado).

 

Entramos a la derecha por la nube

mientras la izquierda se desplomaba

y colapsaron las aguas

derribando árboles:

una borrasca de hojas

desalojó a los huéspedes de la selva

y no sobró en pie un solo tronco

y entre edificios de piedra

restaron peñascos apenas

como si el monte más inmenso

bajo las primeras lluvias

vistiese la larga túnica estriada

y de mañana después del torbellino

la cima fuese una cabeza calva

 

El torrente descendió su desecho en las aguas

hecho un buhonero que desdobla alfombras

al día siguiente parecía que los pájaros

sorbían con pimienta su cauim 

moluscos reviraron la sombra del cielo

haciendo un pasto para los delfines

y en los límites más distantes

los bichos ahogados

parecían raíces arrancadas de cebolla.

 

Al despertar yo expelía versos

en este naufragio en tierra firme

sintiendo en mi lengua

algo de vino, arenga en tus cabellos.

 

Nota: La sección 3 fue escrita a partir de la sura 81 del Corán. La sección 4 reformula imagénes de la selección beduina del Al-Muʿallaqāt.

 

 

ANTINOMES DE UM RIO

 

nos rios, cortejava o Rio,

o que, sem lembrar, temos dentro.

CABRAL, “Murilo Mendes e os rios”

 

1.

Ao rio da minha infância ninguém pôde dar,

e nunca teve nome,

seus nomes eram avenida,

como a vida, cruzada

por outras vias,

porém corria cada

metro em barranca definida

pelo trabalho do homem

nem tem como eu um pouso onde parar;

e se hoje me consome

no rio morto ver a vida

doce descer a estrada

parca de dias,

é que está continuada

na morte presumida

que há anos o carcome,

e de morte deliro que ele aduba o mar.

 

 

2.

Um menino saía todo dia

e topando com tudo ali virava,

como amador que vira a coisa amada,

a coisa ali qualquer que o pressentia,

 

os cães de rua, homens de rua, os ratos

dentro dos prédios, com ou sem seus ternos,

as meninas de saias e cabelos

coloridos aos berros, os assaltos

 

do dia a dia, o asfalto, o cimento,

o cachimbo jogado, a vala, o medo,

os pregos entre os dedos na calçada,

as lascas na parede de uma bala

 

entre casas, as casas nunca vistas,

um corpo, as  manchas todas de outras listas.

 

 

3.

Correndo assim escuro lento espesso,

piche cidade adentro, o mesmo cheiro

dos mangues condensado, aqui te peço,

rio da minha aldeia, o nome inteiro,

 

o meu, o teu, valão da vida inteira,

que desce calmo até que inteiro meça

palmo a palmo a avenida e que enfim nessa

anônima passagem de clareira

 

desconhece barranca não-humana,

rio manso, dejeto destes vivos,

da pinguela em que passo já te aceno,

 

neste curso tão reto, tão ameno,

lugar comum que a minha terra irmana,

dou-me-te o nome novo: morto-vivo.

 

 

4.

A primeira vez que ouviu um tiro

foi na casa do amigo

e parecia longe o tiro

porque a casa longe que era

era a casa do amigo;

ao se multiplicarem, num clarão,

que bonito, pareciam

fogos de artifício do invisível.

 

A segunda, bem antes da primeira,

atirando em passarinho,

mirava bem o chumbo,

coisa infantil, erguida ao olho,

e pronto: ali quedavam mortos

os pardais que por muito tempo não veria

noutras terras, as plumas refletidas

ao sol desciam lentas, recusando

o chumbinho em suas veias

numa dança de vento e sangue.

 

A sétima, metal pesado aos dedos,

parecia a corrente que acorrenta

as maritacas novas no poleiro;

pensou como cantar o rio em sua aldeia,

jurou cantar o rio em sua aldeia.

 

 

5.

Toda infância é queimada

na beira de algum rio.

 

 

6.

Árvores rebentavam sob os pés

por baixo, bem abaixo sob o contrapiso

da calçada, estourando velhos canos

entre brotos e sol, esgoto de anos

brecando-as longe, abaixo rebatidas

por entre estratos de cimento, asfalto,

sangue e osso e medula comprimidos

na mó desta cidade.

 

                                    (O que das árvores

correu até os músculos dos pés,

até as veias, os tendões, o que

carregam à garganta dos calados

na chuva fértil e ácida, com seus

pescoços pênseis, dedo ativo,

pausando em pontos de ônibus possíveis?)

 

Os estilhaços das janelas fazem

no chão esta seara luminosa,

vidro no vidro transplantado, cores

parcas de branco e cinza e chumbo

que adentram sob a pele, que desfolham

os olhos pasmos sob as nuvens; tudo

germina nesta carne, tudo atropela

os ramos dos pulmões em busca de ar,

e ainda assim respiram, nunca param.

 

 

 

(Feito granizo descem procurando

um ninho novo sobre as testas, dando

poros aos corpos perfuráveis, dando

talhos por tudo, desfrutando as plantas

de seus rebentos; e elas crescem outras

entre ferragens e borrachas, outras

carnes de si achando, cernes rachados

da vastidão em torno.)

                                               

                                                Mas nasciam

também os prédios e consigo a seiva;

qual, não sabemos, e ela se destila

em lentos tragos; algo ainda espera

(áridas cascas da última caída?)

no mato em nós, na mata que pudera

cobrir as bocas todas deste cerco.

 

A coisa viva e dúctil nos encerra.

 

7.

E vinhas rompem dos meus dedos

e abelhas repletas de pólen

zunem pesadas nos rebentos

 

entre pássaros que quase dormem

na claridade fatigada

da tarde, as frutas, folhas, flores

 

em seus renovos delicadas

de novo ofertam força aos peixes

deste rio que sou e acabam

 

por renascer no lodo em feixes

de rocha e de metal pesado

como carnagem fina em seixos

 

traduzida, canalizado

aqui transbordo além da conta

e devorando todo o prado

 

devolvo vida em vida, ponta

a ponta, em mim o asfalto brilha

de caramujos, mariposas

 

nublam o dia que cintila

de vagalumes incendiários,

lançando fogo e maresia

 

nos becos, nas docas, nos carros

que de ferrugem reconcebem

nomes de tudo, em tempo e espaço;

 

o sol da língua agora desce

aos astros desfazendo o chumbo

em chuva e à chuva aquece

 

até o vapor dos olhos mudos,

que logo falam e devastam

as cidades, estradas, muros,

 

e este rio no caos repasta

ossos do amor, porque ele é

tudo que sou e somos, basta

 

olhar pro morto agora em pé,

basta entrançar na carne dura

do rio, basta abastar o ser

 

de nada e ao fim boiar na fúria.

 

                                                            p/ Ricardo Domeneck

 

  

ANTINOMBRES DE UN RÍO

 

nos rios, cortejava o Rio,

o que, sem lembrar, temos dentro.

CABRAL, “Murilo Mendes y los ríos”

 

 

1.

Al río de mi infancia nadie le pudo dar,

y nunca tuvo nombre,

sus nombres eran avenida,

como la vida, cruzada

por otras vías,

sin embargo corría cada

metro en barranca definida

por el trabajo del hombre

no tiene como yo un poso donde parar;

y si hoy me consume

en el río muerto ver la vida

dulce descender a la vereda

parca de los días,

es que está continuada

en la muerte presumida

que hace años lo carcome,

y de muerte deliro que él adoba el mar.

 

Un chico salía cada día

y topando con todo allí viraba,

como amador que vira la cosa amada,

a cualquier cosa que allí lo presentía,

 

los perros de calle, hombres de calle, los ratones

dentro de los predios, con o sin sus trajes,

las chicas de sandalias y cabellos

coloridos a los berros, los asaltos

del día a día, el asfalto, el cemento,

la pipa tirada, la zanja, el miedo,

los clavos entre los dedos en la vereda,

las lascas en la pared de una bala

 

entre casas, las casas nunca vistas,

un cuerpo, las manchas todas de otras listas.

 

Corriendo así oscuro lento espeso,

pinte ciudad adentro, el mismo olor

de los manglares condensado, aquí te pido,

río de mi aldea, el nombre entero,

 

el mío, el tuyo, valón de la vida entera,

que desciende calmo hasta que entero mida

palmo a palmo la avenida y que al fin en este

anónimo pasaje de claridad

 

desconoce barranca no-humana,

río manso, desecho de estos vivos,

del pontezuelo en que paso ya te saludo,

 

en este curso tan recto, tan ameno,

lugar común que mi tierra hermana,

te me doy el nombre nuevo: muerto-vivo.

 

La primera vez que oyó un tiro

fue en la casa del amigo

y parecía lejos el tiro

porque la casa lejos que era

era la casa del amigo;

al multiplicarse, en un destello,

qué bonito, parecían

fuegos artificiales de lo invisible.

 

La segunda, mucho antes de la primera,

tirando a un pajarito,

miraba bien el plomo,

cosa infantil, erguida a la vista,

y listo: allí quedaban muertos

los gorriones que por mucho tiempo no vería

en otras tierras, las plumas reflejadas

al sol descendían lentas, recusando

el plomito en sus venas

en una danza de viento y sangre.

 

La séptima, metal pesado a los dedos,

parecía la cadena que encadena

las cotorras nuevas a la percha;

pensó cómo cantarle al río en su aldea,

juró cantarle al río en su aldea.

 

5.

Toda infancia se quema

en la vera de algún río.

 

Árboles reventaban bajo los pies

por debajo, muy abajo bajo el contrapiso

de la vereda, estallando viejos caños

entre brotes y sol, cloaca de años

dirigiéndolos lejos, abajo rebatidos

por entre estratos de cemento, asfalto,

sangre y hueso y médula comprimidos

en la moledora de esta ciudad.

 

                                    (Qué de los árboles                                          

 

corrió hasta los músculos de los pies,

hasta las venas, los tendones, qué

cargan a la garganta de los callados

en la lluvia fértil y ácida, con sus

pescuezos penduleados, dedo activo,

pausando en paradas de ómnibus posibles?)

 

Las astillas de las ventanas hacen

en el suelo esta cosecha luminosa,

vidrio en el vidrio trasplantado, colores

parcos de blanco y gris y plomo

que adentran bajo la piel, que deshojan

los ojos pasmos bajo las nubes; todo

germina en esta carne, todo atropella

las ramas de los pulmones en busca de aire,

y aun así respiran, nunca paran.

 

(Hecho granizo descienden procurando

un nido nuevo sobre las frentes, dando

poros a los cuerpos perforables, dando

tallos por todo, disfrutando las plantas

de sus retoños; y ellas crecen otras

entre herrajes y cauchos, otras

carnes de sí hallando, centros rajados

de la vastedad en torno.)

 

                                   Pero nascían

también los predios y consigo la sabia;

que, no sabemos, y ella se destila

en lentos tragos; algo aún espera

(¿áridas cáscaras de la última caída?)

en el matorral en nosotros, en la mata que pudiera

cubrir las bocas todas de este cerco.

La cosa viva y dúctil nos encierra.

 

7.

Y las viñas se rompen de mis dedos

y abejas repletas de polen

zumban pesadas en los retoños

 

entre pájaros que casi duermen

en la claridad fatigada

de la tarde, las frutas, hojas, flores

 

en sus renuevos delicadas

de nuevo ofrecen fuerza a los peces

de este río que soy y acaban

 

por renacer en el lodo en bultos

de rocas y de metal pesado

como carnicería fina en guijarros

 

traducida, canalizado

aquí trasbordo más allá de la cuenta

y devorando todo el prado

 

devuelvo vida en vida, punta

a punta, en mí el asfalto brilla

de caramujos, mariposas

 

nublan el día que centellea

de luciérnagas incendiarias,

lanzando fuego y brisa marina

 

en los callejones, en las dársenas, en los autos

que de herrumbre reconciben

nombres de todo, en tiempo y espacio;

el sol de la lengua ahora desciende

a los astros deshaciendo el plomo

en lluvia y a la lluvia calienta

 

hasta el vapor de los ojos mudos,

que luego hablan y devastan

las ciudades, rutas, muros,

 

y este río en el caos repasta

huesos del amor, porque él es

todo lo que soy y somos, basta

 

mirar para el muerto ahora de pie,

basta entrelazar en la carne dura

del río, basta abastar el ser

 

de nada y al fin boyar en la furia.

 

p/ Ricardo Domeneck

 

 

Guilherme Gontijo Flores, nasceu em Brasília no ano 1984. É poeta, tradutor e professor de Língua e Literatura Latina na UFPR. Publicou os poemas de “brasa enganosa” (2013), “Tróiades” (www.troiades.com.br, site em 2014, impresso em 2015), “l’azur Blasé” (2016) e “Naharia”, que formam a tetralogia poética reunida em “Todos os nomes que talvez tivéssemos” (2020). Também “carvão :: capim” (2017, Portugal; 2018, Brasil), “Arcano 13” (2022, em parceria com Marcelo Ariel), “Entre costas duplicadas desce um rio” (em parceria com o artista plástico francês François Andes) e “Potlatch” (2022), entre outros. Pela tradução de “A anatomia da melancolia” recebeu os prêmios APCA e Jabuti, de “Elegias de Sexto Propércio” o prêmio da Biblioteca Nacional e de “Safo: fragmentos completos” o prêmio APCA. É cofundador e coeditor do blog e revista escamandro e membro do grupo Pecora Loca, dedicado a poesia e performance e(m) tradução. Tem poemas, artigos, ensaios e traduções publicados em várias revistas dentro e fora do Brasil.

 

 

Guilherme Gontijo Flores, nació en Brasília en el año 1984. Es poeta, traductor y profesor de Lengua y Literatura Latina en la Universidad Federal del Paraná. Publicó los libros de poemas “brasa enganosa” (2013), “Tróiades” (www.troiades.com.br, site en 2014, impreso en 2015), “l´azur Blasé” (2016) y “Naharia”, que forman la tetralogía poética reunida en “Todos os nomes que talvez tivéssemos” (2020). Luego vinieron “carvão :: capim” (2017, Portugal; 2018, Brasil), “Arcano 13” (2022, junto con Marcelo Ariel), “Entre costas duplicadas desce um rio” (2022, junto con el artista plástico francés François Andes) y “Potlatch” (2022), por citar algunos. Por la traducción de “A anatomia da melancolia” recibió los premios APCA y Jabuti, de “Elegias de Sexto Propércio” el premio de la Biblioteca Nacional y de “Safo: fragmentos completos” el premio APCA. Es cofundador y coeditor del blog y revista escamandro y miembro del grupo Pecora Loca, dedicado a la poesía y performance y/en traducción. Posee poemas, artículos, ensayos y traducciones publicados en varias revistas dentro y fuera de Brasil.

 

 

Agustín Arosteguy (Balcarce, 1977) es escritor y traductor. Como escritor ha participado en varias antologías de Argentina, México, España y Brasil. En 2001 escribió el guión del documental “Balcarce´ko Euskaldunak” que fue seleccionado para participar del Programa Gastemundu promovido por el Gobierno Vasco. Escribió los libros “Mi vida es un limón, ¡por favor devuelvan mi dinero!” (La Vaca Mariposa, 2013) y “Escaramú Majestic” (Fuga, 2013; Editorial Araña, 2014). Ambos libros fueron traducidos al portugués, “Minha vida é um limão, por favor devolvam meu dinheiro!” (Ramalhete, 2016) y “Carne de canhão” (Mórula, 2014), a través del Programa Sur. En 2013, fue finalista del II Premio de Literatura Experimental organizado por el Centro Cultural Sporting Club Russafa con el libro “¿Estás contenta con tu Rocambole, amor mío inaccesible?” Entre mayo 2015 y septiembre 2016 mantuvo la columna semanal “Mosaicos”, sobre literatura contemporánea brasileña, en el Suplemento Cultura del diario La Capital de Mar del Plata. Como traductor ha volcado al castellano a los siguientes poetas brasileños: Maria Esther Maciel, Marcelo Montenegro, Adriane Garcia, Fabrício Marques, Inês Campos y Marcelo Sandmann.

 

Agustín Arosteguy (Balcarce, 1977) escritor e tradutor. Como escritor tem participado em várias antologias na Argentina, México, Espanha e Brasil. Em 2001 escreveu o roteiro do documentário “Balcarce´ko Euskaldunak” que foi selecionado para participar do Programa Gastemundu promovido pelo Governo Vasco. Escreveu os livros “Mi vida es un limón, ¡por favor devuelvan mi dinero!” (La Vaca Mariposa, 2013) e “Escaramú Majestic” (Fuga, 2013; Editorial Araña, 2014). Ambos os livros foram traduzidos ao português, “Minha vida é um limão, por favor devolvam meu dinheiro!” (Ramalhete, 2016) e “Carne de canhão” (Mórula, 2014), através do Programa Sur. Em 2013, foi finalista do II Prêmio de Literatura Experimental organizado pelo Centro Cultural Sporting Russafa com o livro “¿Estás contenta con tu Rocambole, amor mío inaccesible?”  Entre maio 2015 e setembro 2016 manteve a coluna semanal “Mosaicos”, sobre literatura contemporânea brasileira, no Suplemento Cultura do jornal La Capital de Mar del Plata. Como tradutor tem levado ao castellano aos seguintes poetas brasileiros: Maria Esther Maciel, Marcelo Montenegro, Adriane Garcia, Fabrício Marques, Inês Campos y Marcelo Sandmann.

 



Compartir